Pedagogia do Esporte Educacional – Instituto Esporte e Educação

SUMÁRIO

Prefácio

Apresentação

Em linhas gerais, a Caravana do Esporte

Os princípios do Esporte Educacional

a) Inclusão

b) Autonomia

c) Diversidade

d) Construção coletiva

e) Educação integral

Metodologia: A transdisciplinaridade

Apostar corridas

Corridas de revezamentos

Princípios pedagógicos

Ensinar esporte a todos

Ensinar bem o esporte a todos

Ensinar mais que o esporte a todos

Ensinar a gostar do esporte

Orientações didáticas e critérios de escolha

Futebol

Tomba cone

Passe vale mais

Soma passes

Mãe da rua

Fut resgate

Bola na roda

Voleibol

Limpa casa

Resgate

Vôlei rali

Cortada/derruba cone

Oficinas do esporte

Zerinho

Desafio do bastão

Paraquedas I

Paraquedas II

Bola ao centro

Robô

Basquete

Chuva de bolas

Espaço limitado

Basquete por zona

Invasão

21 (Vinte e um pontos)

Tênis

Limpa o território

Reconhecimento dos materiais

Rei da quadra

Desafio do sanduíche

Lutas

Briga de galo

Desafio da força

Desafio do pega-pega

Conhecimento do corpo

Atletismo

Revezamento em círculos

Corrida com bastões

Corrida dia e noite

Corrida de perseguição

Revezamento coletivo

Saltos gigantes

Correr no susto

Cross country

Jogos não convencionais

Pega-pega fitas

Fut americano com fita

Slackline

Reconhecimento do espaço

Pega rabo

Coelho fica na toca

Cada macaco no seu galho

Handebol

Tsunami de bolas

Desafio dos passes

Ataque ao castelo

Velozes

Orientações didáticas e critérios de escolha

Caixa das ferramentas didáticas para os professores que recebem formação na Caravana do Esporte

Local de trabalho (espaço de trabalho)

Conhecimentos

Material

a) Tabelas e aros de basquetebol

b) Raquetes de madeira

c) Tacos de golfe

d) Frisbie

e) Pinos de boliche

f) Material para esgrima

g) Dardos

h) Martelo

i) Discos

A fala

O cenário

A boa pergunta

Referências

Sobre a instituição

PREFÁCIO

Colocamos o pé na estrada no ano de 2005 e, de lá para cá, andamos por quase todo o Brasil espalhando a ideia de tornar o esporte acessível a todas as pessoas e uma ferramenta de educação para uma vida digna. Essa tem sido a história da Caravana do Esporte, um dos projetos do Instituto Esporte e Educação, que já mobilizou perto de 400 mil crianças de 178 municípios brasileiros e participou da formação de aproximadamente 30 mil professores e professoras das redes municipais.

Neste livro compartilhamos nossa experiência com crianças, adolescentes, professores e professoras de nosso país. Contamos como fazer para dar aulas para grandes grupos de alunas e alunos, às vezes, mais de três mil em três dias de práticas nas oficinas da Caravana, além dos grupos de professores e professoras, quase sempre acima de cem pessoas em cada cidade.

O que fazemos nas práticas das diversas oficinas da Caravana do Esporte para crianças e adolescentes, todas as professoras e todos os professores de boa vontade podem fazê-lo, com adaptações, em suas escolas e centros esportivos dos municípios. Basta respeitar os princípios norteadores do esporte educacional e atender a alguns princípios pedagógicos orientadores das práticas lúdicas. De acordo com o Instituto Esporte e Educação, os princípios do esporte educacional são os seguintes:

Inclusão de todos – Se não puderem participar todos, então, para nós, não é esporte educacional. Se as crianças não conseguem passar uma bola por sobre a rede de voleibol, então que abaixemos a rede e usemos bolas mais leves. Se o aro de basquetebol for muito alto, basta que o tornemos mais baixo e mais largo. E que as bolas sejam mais leves. O importante é que as crianças possam se sentir realizadas fazendo sextas, passando bolas para o outro lado da rede, marcando gols, equilibrando-se nas fitas de slackline e assim por diante. Se uma criança for cega, temos que criar jogos em que ela possa participar com os videntes, se for cadeirante, nossa criatividade tem que contemplar seu desejo de fazer esporte. Para nós da Caravana, adolescente é aquela pessoa capaz de criticar, de planejar, de sugerir ações. Nas oficinas da Caravana ele será ouvido, ele fará parte do planejamento, ele será sempre incluído de acordo com seu modo de sentir e pensar.

Diversidade – Todas as pessoas são diferentes umas das outras. Algumas diferenças são mais acentuadas e, infelizmente, vítimas de preconceitos. O esporte educacional não comporta exclusões por qualquer diferença. Ao contrário, as diferenças são bem-vindas, são enriquecedoras.

Construção coletiva – No esporte educacional, criança ou adolescente sempre participam da construção das aulas. Tanto participam com críticas e sugestões no início da aula, como durante e ao seu fim. Professoras e professores devem ficar sempre atentos à palavra dos alunos.

Autonomia – Um cidadão autônomo é aquele capaz de participar do mundo em que vive tomando iniciativas orientado por sua consciência e pela ética de preservação da vida social, da natureza e do planeta. Porém, não educamos para a autonomia fazendo discursos sobre esse tema para nossos alunos. O exercício da cidadania autônoma é feito durante as práticas dos jogos. Eles a exercem no esporte educacional percebendo que todos são incluídos, que não são vítimas de preconceitos e que são livres para participar da construção das aulas, além, é claro, do desenvolvimento de suas habilidades para praticar esportes.

Educação integral – A aula termina e algo deve restar para a vida fora das quadras, campos, piscinas. O que define o que vai da aula de esporte educacional para a vida é o método. O método deve orientar uma prática de intensa participação dos alunos, que devem construir juntos, devem resolver problemas, envolver-se em conflitos para aperfeiçoar o modo de jogar, entre outras possibilidades. Essa participação ampla no desenvolvimento da aula pode gerar tomadas de consciência e compreensões suficientes para que os alunos levem para fora de suas práticas elementos que sirvam à vida em família, no convívio com amigos, na formação profissional e na solução de problemas futuros. No esporte educacional não se trata de aulas só para aprender a praticar esportes, mas também para aprender a praticar cidadania.

Esse é o esporte educacional divulgado pelo Instituto Esporte Educacional na Caravana do Esporte. Nossa satisfação é perceber que o esporte educacional, tal como o definimos e praticamos, consegue tratar criança como criança e adolescente como adolescente. Fazemos isso exigindo que o esporte vire criança e adolescente, e não o contrário. A Caravana do Esporte, portanto, leva para suas oficinas um esporte criança e adolescente. Queremos que um dia a educação escolar, de modo geral, olhe para experiências como a nossa e entenda que é possível praticar com seus alunos uma educação criança e adolescente.

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Apresentação

Reunimos aqui nossas experiências enquanto professores do Instituto Esporte e Educação – IEE e responsáveis pela disseminação do Esporte Educacional por meio do projeto Caravana do Esporte.

Trata-se de um projeto que se concretiza em práticas por todo o Brasil e tem como base a metodologia do esporte educacional, tal como a concebe o Instituto Esporte e Educação – IEE. A cada etapa, a cada município visitado, sempre um novo desafio. Enfrentamos temperaturas elevadas e baixas, chuvas, plano A, plano B, aulas que duram em torno de 20 a 25 minutos, turmas com 35 crianças ou mais em cada estação de práticas. São alunos que não conhecemos, os quais, muitas vezes, não se conhecem entre eles. Nossa missão é ensinar esporte em forma de brincadeiras para essas crianças (eventualmente também para adolescentes) e instalar nelas a ideia de que o esporte pode ser praticado por todas as pessoas. Isso é feito, na Caravana do Esporte, distribuindo esses alunos por diversas estações, cada qual com uma prática diferente de esporte adaptado a elas, ao som de músicas, risos, gritos, conversas, sob a lente de câmeras que registram cada momento, cada expressão, cada emoção.

As atividades acontecem diante dos olhares entusiasmados dos professores e professoras da cidade visitada, ansiosos por aprender um pouco da dinâmica, da “magia” e da metodologia do projeto. É nesse encantador cenário que nos dedicamos a apresentar as nossas melhores estratégias, os nossos melhores recursos didáticos, a nossa melhor aula, aprendendo com nossos acertos e erros e buscando, sempre, aprimorar nossas práticas pedagógicas. Nossa metodologia pretende, entre seus fundamentos, partir do ponto de vista dos alunos, tratando criança como criança e adolescente como adolescente. De forma que não é a criança que tem que virar esporte, mas o esporte que tem que virar criança em nossa arena de práticas. O mesmo dizemos quanto ao adolescente. Não vemos melhor maneira de marcar positivamente o dia e a vida de nossos alunos.

Para compartilhar um pouco de nossa experiência, reunimos neste livro boa parte de nossas experiências, para que os leitores possam se inspirar nelas quando estiverem envolvidos em acontecimentos como a Caravana do Esporte ou outros eventos, tais como festivais, aulas de escolas regulares e assim por diante. As descrições dos jogos serão acompanhadas por explicações sobre nossa metodologia, sempre amparada por orientações muito simples e práticas, entre elas uma ferramenta que chamamos de Sistema Protege.

Este livro é dedicado aos professores e professoras que compartilham seus conhecimentos e sua arte com as crianças e jovens do Brasil. Esperamos que nossas experiências ajudem professores e professoras de nosso país a organizarem e realizarem eventos de esporte educacional em seus municípios. E que as experiências contidas neste livro possam ajudar a disseminar nossa metodologia do esporte educacional.

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Em linhas gerais, a Caravana do Esporte

A Caravana do Esporte percorre o território brasileiro convidando a população a praticar esportes e mostrando, por meio de suas ações, que o esporte deve ser realizado por todas as pessoas, podendo constituir veículo privilegiado de educação para a cidadania. Demonstra, usando metodologia muito peculiar, que é possível, mesmo em condições materiais precárias, colocar em práticas esportivas milhares de crianças e jovens em três dias de realizações (tempo de duração da Caravana em cada município), e, em formação para o esporte educacional, centenas de professores a cada etapa.

Durante a realização da Caravana, compatibiliza-se o esporte educacional com as artes, tais como música, teatro, cinema, literatura, dança, comunicação, e com a educação ambiental. Para tanto, arma-se uma arena com equipamento básico e adaptado para a inclusão de milhares de pessoas, que realizam atividades ligadas ao esporte, à arte, e ao meio ambiente, durante três dias. Neste livro comentaremos apenas o esporte.

O caminho para incluir tanta gente durante apenas três dias em uma arena de práticas foi adaptar o esporte ao modo das pessoas. Na arena da Caravana o esporte vira criança e vira adolescente. As redes de voleibol são mais baixas, os aros de basquete são mais baixos e mais largos, os gols no futebol são facilitados, de tal maneira que até esportes aparentemente inacessíveis como o golfe podem ser praticados pelas crianças.

Na atividade da formação de professores, a Caravana do Esporte considera aquilo que eles são e o que conhecem, respeitando seus acervos de conhecimento e sugerindo que cresçam a partir deles. Esses professores pertencem à rede educacional de cada município onde se realiza a Caravana. Fazem a formação, tanto professores de Educação Física como professores de sala de aula.

Ao término da formação dos professores, no terceiro dia de aulas, a Caravana sugere aos professores locais que produzam um Plano de Continuidade, um documento norteador de políticas públicas para o esporte da cidade, criando laços com o poder público local e outros parceiros, sugerindo ações que possam ser viabilizadas pontualmente. Com essa ação de mobilização, mais de uma centena de Planos de Continuidade já foi elaborada pelos professores em formação, como meio de garantir a continuidade do direito ao esporte para todas as crianças e jovens. O impacto das ações desses planos nas políticas públicas de municípios e estados, com o envolvimento de prefeitos, secretários municipais, vereadores e representantes de organizações sociais, pode dar garantias mínimas de que o trabalho apresentado pela Caravana do Esporte continue repercutindo em cada município visitado.

A Caravana do Esporte é fiel ao próprio nome, pois pretende percorrer, como uma caravana, todo o território nacional, convencendo os poderes municipais e os profissionais ligados à educação de que o esporte educacional é viável, simples, barato e excelente veículo de educação para a cidadania. Demonstra a possibilidade de mobilizar milhares de pessoas em poucos dias, apresentando estrutura e pedagogia que podem ser instaladas no município visitado e tornar as ações do esporte educacional permanentes.